“A Ester fez me aceitar mais viado”

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A Ester Diamonds já faz Drag Queen há 02 anos. Ela foi inspirada pelo reality “Ru Paul’s Drag Race”, principalmente pela Violet Chaccki (Vencedora da temporada 7). A Ester continua trabalhando como Drag porque foi algo natural que foi aflorando com o tempo, pois ela sempre gostou de roupas femininas e maquiagem, mesmo sem se sentir mulher.  O William Campello da Silva (nome de batizado) sempre foi tímido e envergonhado, e com a Ester ele não aprendeu a ser só Drag Queen, aprendeu a ser desinibido e ator.

A Ester me fez aceitar mais viado também porque eu tinha medo. Eu tinha medo de demonstrar que eu era gay por causa do que as pessoas iam falar, ou se as pessoas iam rir de mim, por isso que eu tinha vergonha de passar por uma fila de pessoas. Hoje não, hoje eu passo montada só de calcinha numa fila de pessoas e não tô nem aí, sabe? Graças a Ester.

 

A Ester também tem um Podcast chamado Travacast junto com sua amiga Amy Babydoll no qual elas falam sobre a Cultura Pop com ênfase e espaço para mulheres Trans. Ser Transexual ainda é um Tabu para a sociedade, e elas decidiram criar esse Podcast para as mulheres transexuais poderem se expressar de alguma forma. A Amy Babydoll é uma mulher Transexual que faz Drag Queen e a Ester é homem gay que faz Drag Queen. A Amy quis fazer o Podcast para falar sobre ser Transexual e a Ester aceitou participar do Podcast para ter um conhecimento maior sobre o assunto. A Aquenda Revista conversou com a Ester D-Diamonds no Shopping Praia de Belas, no qual, ela falou sobre ser Drag, Mercado de Trabalho, Inspirações, e claro, sobre o Travacast, questões de gênero e muito mais. Confira a entrevista:

 

Aquenda Revista:  Porque tu quis ser Drag Queen?

Ester: Então, eu comecei a ser Drag Queen a partir do momento que eu vi o “Ru Paul’s”, mas foi uma coisa que veio aflorando com o tempo porque eu sempre gostei de roupas femininas, sempre gostei de maquiagem e jóias, só que eu nunca me senti mulher o suficiente pra  ser uma mulher Trans. Eu nunca me senti Trans, nunca me senti mulher, então foi o modo que eu achei pra eu poder usar esses artefatos também. Eu fui uma Drag que me introduzi sozinha no mundo Drag.  Eu não conhecia nada, eu fui abrindo as portas pra mim, eu não tive muito. É que hoje as casas, tipo, tem  uma Drag mais experiente que vai lá e começa a ajudar os meninos que tem vontade de ser Drag e tal. E já vai dando um empurrãozinho, por exemplo, levando eles nas casas pras as pessoas conhecerem e já conseguirem shows. Eu nunca tive isso, eu fui eu por eu mesmo.

Aquenda Revista: E tu já sofreu algum preconceito por ser Drag?

Ester: Antes de eu me casar  com meu companheiro, eu levei muito pé na bunda por ser Drag. Tinha uma época que eu tinha medo de contar para os “crushes”. Tipo, eu demorava pra contar, e sempre que eu contava que era Drag, eu levava um pé na bunda. Meu marido agora me acompanha, é bem tranquilo. Eu sou uma pessoa privilegiada, eu costumo dizer porque quando eu me assumi como gay, eu fui muito bem aceito pelo meu pai, muito bem aceito pela minha mãe, muito bem aceito pelo os meus irmãos. Então eu me assumi como gay dos 16 pra 17 anos. Quando eu fiz 20 anos, eu me separei do meu antigo namorado que não deixava eu ser Drag, eu comecei a me montar, daí eu eu cheguei e disse pra minha mãe: “Ah, vou ser Drag”. Tive que explicar porque minha mãe não sabia o que que era e foi tranquilo. Tanto que a primeira vez que eu cheguei em casa montada que eu vim de uma boate, meu pai olhou pra mim e disse: “tu ficou mais bonito que a tua irmã” (risos).  Eu não tenho carro, eu não saio ônibus. Eu tenho que sair de Uber porque eu tenho medo, mal ou bem, eu tenho medo. Eu não me exponho tanto assim, eu vou em Paradas Gays, mas tipo assim, eu não pego um ônibus montada, eu não vou na vizinhança montada assim, sabe?  Eu nunca sofri preconceito por ser Drag.

Aquenda Revista: Ah, isso é maravilhoso porque a maioria das Drags que eu entrevistei sofreram preconceito, tanto fora do meio Drag quanto dentro do meio Drag.

Ester: Dentro do meio Drag eu já passei muito perrengue assim com as manas. Eram manas que falaram mal do meu show. Já tiveram manas que, tipo, não me incluíam no meio da conversa, me deixavam num canto, sabe? Isso aconteceu muito!

Aquenda Revista: Tipo, te excluindo sem nenhum motivo?

Ester:  Sim. Por nenhum motivo, por não saber quem eu era. Sempre que eu vejo alguém nova, eu tento puxar assunto pra conversar. Agora to mais conhecida, né? Só que antes eu não era conhecida. Eu era um menino tímido, eu nunca fiz teatro, nunca fiz nada, então eu perdi minha timidez no palco. Aprendi a ser Drag Queen e aprendi a ser Ator.

Aquenda Revista:  Ai, que demais! E  qual  é a maior diferença pro Willian e para Ester?

Ester: Eu sou tímido, o Willian é tímido. A Éster é desinibida. É literalmente do 8 ao 80, sabe? Porque eu uso a Ester como uma máscara pra mim. As pessoas não me reconhecem quando eu estou desmontado, então isso pra mim é muito tranquilo que eu não sofro assédio na rua. É muito difícil alguém chegar e dizer: “Ai, tu é Ester”, a não ser alguém que me conheça, caso ao contrário, não. E no palco eu sou uma pessoa, na minha vida sou outra.

Aquenda Revista: Demais! E tu tem alguma dica pra dar para alguém que quer ser Drag? Seja como Hobby ou Profissão?

Ester: Guarda dinheiro porque ser Drag é caro, não é barato. Tenha paciência porque eu faço Drag só há 2 anos, foi tudo muito rápido pra mim, mas hoje eu tô começando a colher o que plantei em 2 anos. Vá fazer show em paradas gays. Não é recompensado, mas na verdade a recompensa vem com o conhecimento de palco, conhecimento de show, conhecimento de pessoas maravilhosas. Sempre que puder, vá fazer paradas de luta, sempre se inscreva. Não seja desleixada com a sua personagem. Pode ser assim, uma saia de 15 reais, mas faça aquela saia de 15 reais parecer de 300 reais. Eu mesmo compro muita coisa em brechó, mas tipo assim, tu tem que ter o  bom gosto, saber fazer combinar, sabe?

Aquenda Revista: É mais ou menos quanto pra ser Drag? Uma noite, por exemplo, tu gasta quanto?

Ester: Muito caro. Uma noite, por exemplo, se a pessoa já tem peruca, se a pessoa já tem roupa, vai pagar no mínimo tua maquiagem ou se tu fizer tua maquiagem tu não gasta nada. Eu acho assim, com 500 reais, pelo menos por noite, dá pra ser Drag sem essas coisas. Aí tipo, tu comprando uma peruca, lógico, uma peruca mais barata, consegue ser Drag.

Aquenda Revista: E tem como ser Drag sem gastar tudo isso?

Ester: Se tu tiver as coisas, tu não gasta. Só vai gastar com teu transporte, com o que tu vai usar na festa e é isso. Ser Drag é realmente caro, a não ser que você tenha amigos Drags, daí já te facilita muito também, mas não tem como tu ser Drag Queen e não querer gastar nada.

Aquenda Revista: E o que você acha do Mercado de Trabalho para Drag Queens aqui em Porto Alegre?

Ester: Poderia estar bem melhor porque nós não temos casas. Muitas vezes as pessoas querem que nós fizemos shows, mas eles não querem pagar os nossos shows. Tipo, eles dão a comanda livre. Tipo assim, comanda não paga peruca. Muita casa fala: “Dou free comanda, tu bebe o que quiser”, daí, tipo, não paga a peruca, entendeu ? Tipo assim, nós temos a Vitraux e Workroom que pagam as Drags Queens. São as únicas duas casas que tem aqui que eu sei que pagam.

Aquenda Revista: E tem alguma Drag que te inspira?

Ester: Violet! Foi ela minha inspiração total. A Violet me inspirou do Burlesco, Pin -up porque eu adoro essa coisa  anos 50 e 60.  Daqui de Porto Alegre, eu tenho a própria Amy Babydoll que eu acho o trabalho dela incrível, tem o…só vai pra Amy Babydoll mesmo (risos). Não, mentira. Tem várias manas aí que tão lutando no dia a dia, mas tipo, eu me inspiro muito na Amy. Eu tenho inspiração nas manas mais antigas, tipo a Charlene Voluntaire, tive o privilégio de repartir camarim agora com ela. A Gloria Crystal que  começou como Drag…. eu tenho minha preferência sempre para as mais antigas. A Cassandra Calabouço que tá dando cara a tapa aí muito antes, porque hoje é muito fácil ser Drag, antigamente não era.

Aquenda Revista: Tu te inspira na moda dos Anos 50?

Ester: Na verdade, hoje eu não me inspiro em mais nada. Eu me inspiro em que eu tô com vontade, é uma coisa livre. A Ester não tem um estilo definido, tipo assim, sempre tu vai ver muito preto, cabelo liso, mas as vezes eu dou uma louqueada. Tipo, eu fiz um Palhaço agora no Workroom, entendeu? Eu procuro inovar dentro da minha Drag. Tem muita gente que faz Drag “Cover”, não sei se é isso que posso dizer, tipo assim, se monta: “vou lá fazer Beyoncé e hoje vou me montar toda de Beyoncé”.  Não, eu  não procuro dar a semelhança de alguém para minha Drag. Na verdade, eu dou  a minha Drag, eu uso a minha Drag inspirado naquilo. Tipo, dublo a Lady Gaga e vou fazer Vênus, eu fiz um figurino que tem a ver com a música, mas é a minha Drag performando Lady Gaga, Entendeu? Não é pra me aparecer com a Lady Gaga, nem nada. É a minha Drag fazendo aquilo.

Aquenda Revista:  E o que é ser Drag pra ti? O que tu acha de ser Drag?

Ester: Ser Drag é um modo de tu se expressar e de tu te libertar de várias amarras da sociedade como o preconceito e  o padrão. É o modo de se expressar contra tudo isso. É uma militância, ser Drag é uma militância.  Eu com a Ester perdi um pouco da timidez, eu era muito tímido, e continuo tímido. Lógico que  eu montada em cima do palco mando uma pessoa tomar no cu, desmontada não mando, entendeu? Hoje já não sou mais tão tímido por causa da  Drag.

Aquenda Revista:  Ela fez tu se expressar  tudo o que  tem vontade de falar?

Ester: Exato. Ela fez eu perder aquela coisa bicho do mato porque eu chegava nos lugares e tinha vergonha de dar oi para as pessoas, eu tinha vergonha. Se tivesse uma fileira e tivesse um monte de gente assim, eu tinha vergonha de passar na frente da fileira. Na verdade, a Ester fez aceitar mais viado também porque eu tinha medo. Eu tinha medo de demonstrar que eu era gay por causa do que as pessoas iam falar, ou se as pessoas iam rir de mim, por isso que eu tinha vergonha de passar por uma fila de pessoas. Hoje não, hoje eu passo montada só de calcinha numa fila de pessoas e não tô nem aí, sabe? Graças a Ester.

Aquenda Revista: Me conta um pouco do Podcast Travacast?

Ester: Então, eu tenho um Podcast com a Amy Babydoll. Pra quem não sabe, a Amy Babydoll acabou de se, não posso dizer assumir, mas ela acabou de se entender como mulher Trans. Nós resolvemos fazer esse Podcast pra abrir espaço pra mulher Trans porquê na minha visão o gay, porque por mais que exista preconceito, ele é muito mais bem  aceito, a lésbica também, só que  a partir do momento que entra uma mulher Trans ainda é um Tabu muito grande.  Aí nós fizemos  para abrir espaço para as mulheres Trans porque tem pouco espaço que abre pra mulher Trans. Na verdade, a gente entrevista de tudo, mas a preferência é sempre pra mulher Trans.

Aquenda Revista: Legal. E vocês falam mais ou menos sobre o que no Podcast?

Ester: Nosso Podcast,  por incrível que pareça é voltado pra Cultura Pop, Arte Pop. Nós falamos de filme, séries e livros, tudo que envolva arte.  A gente sempre traz um convidado, geralmente uma Trans conhecida em Porto Alegre pra falar sobre isso com a gente. E daí se ela se sentir a vontade, ela pode falar sobre a vida dela ou dentro daquele tema, alguma coisa que ela já passou, dentro, tipo, do filme, série que ela viu e passou. Na verdade, a gente só teve uma convidada Trans ainda até agora nos 4  episódios, porque no primeiro foi uma prévia do que ia ser o Podcast, aí ficou só eu e a Amy. O segundo entrou a Sophie que é uma menina Trans que trabalha no Workroom, ela trabalha como garçonete. Com certeza tu deve conhecer, é uma crespinha alta, coisa mais amada. No terceiro veio meu marido. Daí o 4 é eu e a Amy e o especial de Halloween é eu e a Amy também que vai ser mais pra semana que vem.

Aquenda Revista: E porque vocês decidiram criar um Podcast como meio de comunicação?

Ester: Quem teve a ideia foi a Amy, não fui eu. Aí ela perguntou quem topava, e eu topei pra gente dar a cara aí. Não pra ficar famosa, mas pra gente dá visibilidade pro meio Trans porque eu acho que as Trans precisam ser vistas como pessoas normais que são, não como monstros. Nós temos um Tabu na nossa Sociedade que fala que Trans é monstro, que a Trans é tudo de ruim, mas eu digo assim, isso é a maior mentira que existe na face da terra, entendeu? Então a gente quer poder, pelo menos, desmistificar isso o máximo que pode, inclusive tem preconceito com Trans até dentro do meio gay mesmo, entendeu? E isso não é só com Trans, tem gente que tem preconceito com gays, tem gente que tem preconceito com gays afeminados, tem gays que tem preconceito com gay que é padrão, que a gente chama de padrão. Eu tenho um pouco de preconceito com gay padrão, tá? Eu sou bem contra o Gay padrão.

Aquenda Revista: Vocês tiveram a ideia do Podcast para dar visibilidade para as mulheres Trans então?

Ester: A Amy tava se descobrindo uma mulher na época, agora ela já decidiu que é uma mulher, inclusive acho que ela fala sobre isso no terceiro episódio do Podcast. A Amy queria ver como é a vida de uma Trans e eu queria aprender tudo sobre uma Trans, entendeu? Porquê a gente não sabe tudo, a gente não sabe o que vai ofender uma pessoa ou não. Então a gente tá tendo vários pontos de vista pra gente criar o nosso próprio sem errar e sem ofender ninguém.

Aquenda Revista:  Muito legal da parte de vocês duas, porque ela quer falar o lado dela e tu quer ter um conhecimento sobre o assunto.

Ester: Um conhecimento maior sobre isso, até mesmo porque ela é minha amiga. E eu acho que a partir do momento que um amigo decide alguma coisa, a gente tem que dar a mão, apoiar e entender.

Ester fazendo uma de suas Performances

 

 

 

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