“Eu tinha um conceito deturpado sobre Drags: promiscuidades e drogas”

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   Anastácia Kah foi uma das finalistas do concurso #TheQueens que aconteceu na Boate Vitraux, em Porto Alegre. A primeira vez que o André Flores (nome de batismo) se montou de Drag foi em 2016, na festa Biba, no qual ele e um amigo combinaram de irem montados como se fosse festa a fantasia. Ele fez a montação de brincadeira, e nesta festa específica conheceu muitas pessoas que fizeram ele estourar a bolha e enxergar a Drag além da montação.  Depois que ele se montou como Drag, a visão dele mudou totalmente.

“Quando experimentei me montar, minha visão mudou totalmente. Eu tinha um conceito deturpado sobre Drags, promiscuidades e drogas.”

  André Flores participou do curso “Pimp My Drag”, ministrado pela Cassandra Calabouço em 2017 para aprender como funcionava o Universo Drag e também para sair da zona de conforto. O André teve seu nome de Drag, Anastácia Kah, na véspera da formatura do curso.

  Em meio a pandemia que estamos vivendo, a Aquenda Revista conversou com  a Anastácia via WhatsApp. Ela falou sobre o incentivo de participar no concurso The Queens, preconceitos que já enfrentou no meio LGBT, porque quis ser Drag, conselhos e muito mais. Confira a entrevista:

Foto: Arquivo Pessoal

Aquenda Revista: O que te incentivou a participar do concurso The Queens?

Anastácia: A oportunidade de apresentar meu trabalho visto que não sou uma Drag Queen “convencional/comercial”.  A chance de performar músicas que não tocam em balada, não estão na playlist de praticamente ninguém e, convidando as pessoas a sair da bolha/zona de conforto.

Aquenda Revista: Porque você quis ser Drag Queen?

Anastácia: Eu não quis, foi acontecendo. Eu não tinha praticamente contato próximo com Drags por simplesmente só enxergar minha bolha e me relacionar dentro dela. A festa BIBA estava em alta em 2016, mas eu nunca tinha ido. Daí combinei com um amigo de irmos “montados”. Nós conversamos com a Cassandra, pedimos dicas e fomos com o que tínhamos… Era época das férias, pra nós foi pura brincadeira, tipo ir em festa à fantasia. Conhecemos bastante gente na festa, o que me deu esse “click” de “estourar a bolha”  e enxergar além a  Drag, por trás da montação. Quando experienciei me montar, minha visão mudou totalmente. Eu tinha um conceito deturpado sobre Drags, promiscuidades e drogas. Então eu conheci a Cassandra Calabouço e conversamos muito, ela me incentivou muito. Em 2017 me inscrevi no Pimp My Drag, para aprender como funcionava esse universo e sair da minha zona de conforto, foi mais pelo aprendizado em si do que para “ser Drag”, tanto que o nome só surgiu praticamente nas vésperas da formatura do curso. Todos formandos se apresentaram, e minha apresentação foi maravilhosa (para mim). Eu fui pimpada, abençoada pela Madrinha do curso, Charlene Voluntaire. A sensação única de subir no palco, a felicidade que senti me fez sentir algo tão especial que me fez desejar me montar cada vez mais, e subir nos palcos também.

Aquenda Revista: Já sofreu algum preconceito por ser Drag?

Anastácia: Sim, principalmente no meio LGBT, por estarem acostumadas com Drags sem barba, com cabelo liso, magras e com uma certa “passabilidade” de mulher cis, visto que esse é o padrão comercial/convencional que estão acostumadas. Sou vista como a diferenciada e estranha por muita gente. No sentido particular, muitas pessoas acreditam que ser Drag é querer ser Trans, então já ouvi coisas como: “Vai colocar peitos? Quando tu vai te operar?”. Também relacionam Drag com promiscuidade e fetiche, então recebi muitas propostas de sexo, principalmente por dinheiro. Também recebi “cantadas” do tipo:  “Você é tão bonito, pena que é Drag” ou “Se tu não fosse Drag, eu ficava contigo”

Aquenda Revista: Qual conselho você dá para quem quer ser Drag? Seja como hobby ou profissão?

Anastácia: Seja humilde. Ninguém começa sabendo tudo, é uma constante evolução.  Empatia também é fundamental, já que Drag é uma construção individual, então teu gosto é somente teu e tu não vai agradar a todos, assim como nem todos a tua volta vão te agradar. Esteja aberta a críticas, mas saiba filtrar. Ser uma Drag exige estudo, tempo, dinheiro e investimento. O figurino é caro, a maquiagem é cara, o cabelo é caro, o deslocamento é caro… Faça porque gosta! É realmente difícil ser uma Drag Profissional, e se manter somente com essa arte. Primeiro que são poucos lugares que abrem espaço e os que abrem te chamam uma vez no mês, bimestralmente ou até mais espaçado, devido a grande quantidade de Drags existente, a rotatividade é grande. Com isso, a valorização diminui, o cachê reduz (lei da oferta e da procura) e por muitas vezes nem há pagamento, onde os contratantes alegam que é pela “oportunidade” e também trocar por “visibilidade para tua Drag”. Por fim, seja persistente, a realização supera tudo.

6 COMENTÁRIOS

  1. uma jornalista de ponta disponível e absolutamente coerente quanto aos questionamentos, com um jogo de palavras fantástico que permite ao leitor uma continuidade na leitura com desejo de mais informações. Parabéns, você já é um sucesso, trilhe e brilhe.

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