“Eu tava a fim de fazer alguma performance de cunho político como manifesto anti-bolsonarista”

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   Katrina Addams ficou mundialmente conhecida pós a visibilidade do seu vídeo com a performance da “Barbie Fascista”, sendo notada por famosos como Lorelay Fox (Drag Influencer) e Rita Von Hunty (Apresentadora do “Drag Me as a Queen”). Na época, a internet estava tomada de fotos da Barbie com frases irônicas para o nosso Governo atual, que geralmente as pessoas privilegiadas na sociedade falam, como: “Não quero que o Brasil vire uma Venezuela” e “O PT destruiu a minha vida”, e também vazou um áudio de uma mulher que é praticamente o resumo da meritocracia brasileira.  Algumas das inspirações da Katrina para fazer a performance da “Barbie Fascista” foram os memes da Bárbie e o áudio, no qual fez o número como manifesto anti-bolsonarista no período eleitoral do ano de 2018.

Tava rolando o período eleitoral no final de 2018 e eu tava a fim de fazer alguma performance de cunho político como manifesto anti -bolsonarista 

   O Alan Saueressing (nome de batismo) se montou pela primeira vez em público quando tinha 15 anos em uma peça de Teatro da Escola em que ele fez a personagem da Mortícia Addams. A Katrina é uma Drag Bruxa, e sempre teve uma veia artística muito forte, sendo inspirada fortemente pelo reality “Ru Paul’s Drag Race”.

   Em meio a pandemia que estamos vivendo, a Aquenda Revista conversou com  a Katrina via WhatsApp. Ela falou sobre a sua ideia de fazer o número da Barbie Fascista, porque quis ser Drag, sua veia artística, inspirações, conselhos e muito mais. Confira a entrevista completa:

 

Foto: @alienmagri

Aquenda Revista: Porque você quis ser Drag Queen?

Katrina: Eu sou/faço drag desde o ensino médio; comecei a me montar lá por 2014 que tava rolando um boom mundial de uma nova geração drag, e minha primeira vez montada em público foi numa peça que eu mesmo escrevi pro teatro da escola, sobre a Família Addams – daí vem meu sobrenome -, em que eu era a Mortícia; eu tinha uns 15 anos. É difícil explicar por que eu quis ser drag.  É um sentimento que sempre esteve em mim e tudo fluiu de forma muito orgânica. Desde muito novo, o universo feminino sempre me atraiu muito e passei toda a infância e adolescência brincando de ser mulher, com roupas e maquiagens da minha mãe, da minha vó – ela tinha uns looks vintage babadeiros – e tal. Por isso, com o passar do tempo, percebi que drag, pra mim, é mais que um hobby ou – hoje em dia – uma profissão, é também uma expressão de gênero, no meu caso; quando montada, eu exteriorizo artisticamente meus sentimentos e o meu lado feminino por completo. Eu sempre tive uma veia artística muito forte e escolhi ser e fazer drag simplesmente porque é o que me faz feliz.

Aquenda Revista: Você foi inspirado pelo  Reality “Ru Paul’s Drag Race”?

Katrina: Fui fortemente inspirada por Drag Race. Vi pela primeira vez na TV quando passava na VH1 aqui no Brasil, quando eu tinha uns 13/14 anos. Me identifiquei de cara. Foi quando eu descobri o que drag realmente era e entendi aquilo como uma forma de arte legítima.

Aquenda Revista: Porque você se autodenomina Drag Bruxa?

Katrina: Além da bruxaria ser uma crença e uma filosofia de vida que sigo, como drag eu acho que gosto de me autodenominar bruxa pela força que a palavra tem, por ser rodeada de mistérios e por representar uma figura feminina imponente.

Aquenda Revista: E como surgiu a ideia de fazer o número da Barbie Fascista?

Katrina: Tava rolando o período eleitoral no final de 2018 e eu tava a fim de fazer alguma performance de cunho político como manifesto anti – bolsonarista. Tava em alta também o meme da Bárbie Fascista, aquele áudio da menina gritando sobre meritocracia etc, e uma coisa levou a outra. As ideias foram borbulhando na minha cabeça e bolei a performance muito rápido, catei uma camiseta do Brasil, uma arma de brinquedo e tal. Então, num fim de semana que ia rolar a Festa da Diversidade, a festa LGBT de Frederico Westphalen, que sou drag residente,  eu resolvi botar a ideia da performance em prática.  Na semana do Natal daquele ano eu postei o vídeo nas redes sociais e a repercussão foi muito maior do que eu imaginava. Fiquei imensamente feliz com o alcance que a performance – e sua mensagem – teve e sou muito grata pela visibilidade que ganhei.

Aquenda Revista: E falando em política, tu já sofreu algum tipo de censura por representar a Barbie Fascista?

Katrina: Pelo contrário, a Barbie me trouxe visibilidade, porque os grupos sociais que frequento são todos anti – bolsonaristas.

Aquenda Revista: Qual foi o momento mais marcante que você teve pós a visibilidade do vídeo com a performance da Barbie Fascista?

Katrina: A repercussão da Barbie foi um conjunto de momentos marcantes, eu acho; ver pessoas famosas como Lorelay Fox, Diva Depressão – no twitter – e portais como o Põe na Roda falando de mim foi muito bom. Rita Von Hunty também, que é uma figura drag política emblemática que eu admiro demais, passou a me conhecer e acompanhar meu trabalho. E, claro, todo o carinho e admiração de muitas pessoas. Tudo isso me deixa muito grata e feliz.

Aquenda Revista: Já sofreu algum preconceito por ser Drag?

Katrina: Se eu dissesse que nunca sofri preconceito por ser drag, estaria mentindo. No entanto, nunca sofri diretamente – não que eu me lembre. Eu tive a imensa sorte de sempre estar cercado e eu sempre procurei estar cercado de pessoas boas que sempre me respeitam, e mais: me admiram também.

Aquenda Revista: Qual conselho você dá para quem quer ser Drag? Seja como hobby ou profissão?

Katrina: O conselho que eu dou pra quem quer começar a fazer drag é: só vai! Eu vejo muita gente que deseja começar, mas fica travada pensando e se preocupando demais, assim você meio que não sai do lugar. Quase todo mundo que faz drag começou meio que na brincadeira. Se montar é uma experiência fantástica que todo mundo deveria ter um dia, só pra ver como é. Pra quem quiser seguir carreira drag como profissão, eu desejo paciência, perseverança e muita garra, porque não é fácil, a arte drag não é valorizada como deveria – como a arte em geral, no Brasil especialmente – e isso é bastante frustrante.

 

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