“Senti que era aquilo que eu queria pra minha vida”

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1980

   Ithallo Fábio (20) sempre foi apaixonado por arte. Desde criança sempre gostou de cantar, dançar, atuar, desenhar e fazer as pessoas felizes. Ele é original da Paraíba e se mudou para Fortaleza em 2015, mesmo ano que descobriu o  “Ru Paul Drag Race” e se apaixonou pela arte drag.

  Na mudança para Fortaleza, Ithallo deu a desculpa que ia fazer aula de Teatro, mas a verdade é que ele queria explorar novos horizontes. Depois de ter descoberto o programa do Ru Paul Drag Race, Ithallo ficou inspirado e começou a treinar make e fazer looks com vídeos do Youtube.  Ithallo se montou pela primeira vez com 15 anos, e assim a Kimberly (nome drag) nasceu e também o inspirou  a fazer curso de corte e costura.

  A Aquenda Revista conversou com a Kimberly via WhatsApp. Ela falou os motivos de ser drag, preconceitos, diferenças entre Ithallo e Kimberly, conselhos e muito mais. Confira a entr,evista completa:

         

Foto: arquivo pessoal

Aquenda Revista: Porque você quis ser drag?

Kimberly: Sempre fui de me expressar artisticamente durante toda minha infância, seja cantando, dançando, fazendo as pessoas rirem, criando fantasias de forma bem crafty, desenhando e imaginando que um dia eu seria famoso e reconhecido por algo, só não sabia pelo o que. No fim de 2015 descobri Drag Race e me apaixonei imediatamente por aquilo que eu estava vendo. Até então só havia tido contato com a arte drag através de programas onde mostravam drag queen de bate cabelo fazendo performances, e lembro de sempre achar aquilo incrível, só não enxergava aquilo como uma vocação, carreira e até mesmo profissão. Foi com Drag Race que vi que alguém poderia usar a arte para construir uma carreira e se tornar conhecido por isso. Comecei a treinar maquiagem assistindo vídeos no YouTube e criando looks com cola e às vezes até costurando à mão. Acho que mais ou menos um ano depois eu quis aprender a costurar de verdade pois não queria depender dos outros para criar meus looks. Decidi começar o curso de corte e costura e desde então nunca parei de costurar. Tanto é, que hoje em dia é uma das minhas fontes de renda, juntamente com a Drag. No começo da carreira eu era muito novinho pra frequentar clubes e também era muito inseguro enquanto ao meio LGBTQIA e não possuía muitos amigos na cidade nova. Mas isso não me impediu. Criei um canal no YouTube e postava vídeos semanalmente comentando os episódios da temporada de Drag Race que estava indo ao ar na época. Depois de um tempo parei com o canal, inclusive tive alguns breakdowns achando que aquilo (drag) não ia me render nada e querendo desistir. Mas refleti bastante e senti que era aquilo que eu queria pra minha vida.

Aquenda Revista: Quando você se montou pela primeira vez?

Kimberly: Eu me montava desde os 15 anos, porém, quando  completei 17, fiz uma identidade falsa e comecei a frequentar as boates, ainda desmontado, e alguns meses depois criei coragem para sair montada. Meu lema era que eu só iria aparecer montada nas festas quando eu já me considerasse polida o suficiente. Desde então nunca parei de me montar nem de frequentar festas. Demorei um longo tempo para ganhar reconhecimento do público e dos produtores, mas eu sempre estava lá bem produzida nas festas e com looks impecáveis (as vezes nem tanto) feitos por mim mesmo e tentando ganhar a tão sonhado oportunidade de jobs.

A Gandaia foi a casa que abriu as portas e me deu um dos meus primeiros jobs (ainda quando era somente uma festa e não havia boate física), desde então sou residente de lá e continuo com minha jornada, sempre levando Drag a sério, pois enxergo isso como minha profissão.

Aquenda Revista: A Drag é uma das tuas fontes de renda ?

Kimberly: É uma das minhas fontes de renda sim. Sou residente do Gandaia Club, às vezes trabalho todos os fins de semana lá e às vezes não. O que ganho lá é dentro da média do que outros djs e artistas ganham, o que não é muita coisa. São poucas as drags que conseguem jobs com cachê aqui em Fortaleza. Eu particularmente só trabalho se tiver cachê kkkk. Muitas aceitam trabalhar a troca de consumação e outras coisas no começo da carreira para poder conseguir visibilidade, e eu acho ok isso, pq realmente você tem que fazer seu nome. Mas hj em dia, praticamente só me monto a trabalho. Infelizmente eu não consigo me manter só da drag.

 

Aquenda Revista: Você já sofreu preconceito por ser Drag Queen?

Kimberly: Creio que situações de preconceito por estar montado e fazendo drag não exatamente. E graças a Deus né, porque sempre que saio me sinto muito vulnerável e procuro sempre sair junto de alguém. Drag nos deixa muito vulneráveis, são várias coisas nos apertando, peruca colada, salto apertado, cintura apertada, então essas coisas nos deixam bastante vulneráveis. Mas acho que o que pessoas que fazem drag sofrem mais é em relação à namoro e relacionamento afetivo com outras pessoas, pois sempre somos vistos como um personagem e uma “figura” que só serve para animar geral e dar close. A parte difícil é alguém se interessar pela pessoa por trás da drag, e principalmente fazer isso sem nenhum interesse por trás. Você pode perguntar a qualquer drag que provavelmente ela vai te dizer que alguém já se aproximou afetivamente dela pelo motivo de querer começar a se montar e te fazer de tutora (mas óbvio que a pessoa não vai deixar isso claro).

Aquenda Revista: Você começou a costurar por causa da sua drag?

Kimberly: Basicamente sim. Sempre amei o mundo da moda e demonstrei gosto pela criação de looks e fantasias. Mas só tive a coragem e vontade de costurar pra valer por causa da Kimberly sim, pois não queria depender de outros para dar vida aos meus looks.

 

Aquenda Revista: Qual a maior diferença entre Ithallo e Kimberly?

Kimberly: Algumas drags dizem que desmontadas são totalmente o oposto de quando estão na persona Drag. Mas eu, particularmente, não enxergo a Kimberly como um “personagem”. A Kim pra mim é nada mais nada menos que meu alter-ego produzido, pois out of drag eu também sou uma pessoa extravagante e que cativa as pessoas com meu jeito autêntico e divertido.

Aquenda Revista: Qual conselho você dá para quem quer ser drag? Seja como hobby ou profissão?

Kimberly: Se você ama a arte drag e acha que você pode mostrar suas habilidades nela, apenas se jogue nessa aventura e descubra esse mundo vasto de possibilidades que essa arte proporciona. Não sinta que você tem que se provar boa para as outras pessoas. Seja você mesmo e se divirta.

Se você pretende investir na drag na expectativa de ter algum retorno, então leve isso a sério e enxergue como uma profissão, porque isso realmente pode ser o trampo de alguém. SEJA PROFISSIONAL! Mas se pergunte antes se realmente é isso que você quer!

 

Foto: arquivo pessoal

 

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