Suélci Fontana (49), cabeleireiro, apresentador e produtor de festas LGBTQIA+ se montou “de brincadeira” há 25 anos, e desde então ele se tornou Lolita Boom Boom (Loly) profissionalmente. A Aquenda Revista conversou com Loly via WhatsApp. Ela falou porque quis ser drag, conselhos, diferenças entre Loly e Suélci, diferença das drags de antigamente para as drags atuais e muito mais. Confira a entrevista completa:
Aquenda Revista: Porque você quis ser Drag Queen?
Loly: Na verdade, no início minha intenção não era essa, ser drag. Eu apresentava, eu tive minha primeira boate gay há 25 anos, e eu apresentava os shows vestido de homem, não me montava. E daí eu contratava outros artistas para apresentar ou para fazer show, e as pessoas começaram a me pedir para me montar porque como eu já apresentava shows vestido de homem, eu fiz uma brincadeira, fiz como brincadeira e acabou virando minha profissão, e a partir daí eu comecei a apresentar os shows direto da boate montada de Lolita. Na época, eu usava mais Lolita Boom boom, hoje em dia, eu uso mais o Loly Drag.
Aquenda Revista: Você vê diferença entre as drags mais antigas para as mais atuais? Se sim, quais?
Loly: Existe sim uma grande diferença entre as drags de antigamente para as drags de hoje em dia. Hoje em dia as drags são mais inspiradas em Ru Paul, coisas assim e é um estilo mais pop, menos produção. Na nossa época eram mais plumas, mais paetês, uma coisa mais glamorosa. Hoje em dia é mais dublagem e dança. Não que não tivesse na nossa época também, e não que não tenha hoje em dia grandes produções, mas na nossa época o pessoal investia mais em figurino, pedrarias, plumas e coisas assim, e hoje em dia as drags estão mais resumidas ao básico, ao tradicional, shortinho, sainha, coisas assim. Então o pessoal não está voltado assim tanto para produção. Eles estão mais na questão da dublagem e na questão de performance. Hoje em dia um maiô, uma dúzia de pedrinhas tá suficiente. Antigamente a gente usava um monte de pedras e coisaradas, tinha um investimento bem maior. Tudo bem que investimento hoje não se paga, hoje em dia, para ti fazer uma grande produção, fazer shows, não se paga. Porque você vai fazer show duas ou três vezes com aquele figurino, sendo um figurino que tu não aproveita mais porque já fica manjado, então é um investimento que não é muito válido para hoje em dia porque os cachês não estão tão altos e então o investimento não é tão alto, né?
Aquenda Revista: Qual sua inspiração como drag?
Loly: Eu não tive muito uma inspiração direta de alguma drag que se formou minha personalidade como drag, mas pessoas que eu admiro e que de repente tenha tido algum tipo de inspiração foram Gloria Crystal, Charlene Voluntaire, Lady Cibele, Laurita Leão..
Aquenda Revista: Já sofreu algum preconceito por ser Drag?
Loly: Preconceito sempre existe, né?! Mas eu nunca passei por muitos preconceitos porque eu sempre tive uma personalidade muito forte, então eu sempre fui muito destemido nas coisas que eu fazia, então eu me dava o respeito para ser respeitado. Por eu ter um nome um pouco mais conhecido aqui na cidade, todos os lugares que eu ia, eu frequentava bailões, pagodes, tudo que é lugar assim…e todos os lugares que eu ia, eu era muito bem tratado por ser muito bem conhecido e por já ter a fama de ser muito autoritário e tal, de não levar desaforo para casa. Justamente por isso, as pessoas já me respeitavam um pouco mais, então não sofri muitos preconceitos não.
Aquenda Revista: Qual a maior diferença entre o Suélci e a Loly?
Loly: Quanto a diferença entre o Suélci e a Loly, Lolita, existe uma grande diferença sim, principalmente na questão de o Suélci ser extremamente na dele, mais quieto, mais tímido. A Lolita é mais extrovertida, mais brincalhona, mais atrevida, digamos assim, as personalidades são totalmente diferentes uma da outra. Na verdade, durante toda minha carreira, o Suélci ficou escondido atrás da Lolita. Hoje em dia eu tenho deixado um pouco ela de lado e vivido um pouco mais a vida de Suélci, Su, como gosto de ser chamado. Mas eu passei a minha vida toda muito focado na Lolita como se fosse um escudo para eu fazer as coisas que eu não conseguia fazer como menino, eu fazia como menina, entendeu? Ser um pouco mais extrovertido, ser um pouco mais despojado.
Aquenda Revista: Qual conselho você dá para quem quer ser Drag? Seja como hobby ou profissão?
Loly: Conselho que eu daria para quem quer começar na profissão ou no hobby de drag é: invista nisso, mas não tenha isso como sua principal fonte de renda, porque no Rio Grande do Sul trabalhar com drag é muito complicado porque não tem muitas opções, não tem muitos lugares para trabalhar e é uma profissão que não paga muito bem, então ter ela como uma segunda opção é bacana, mas não focar como prioridade para viver disso, porque hoje em dia é muito complicado, nós estamos em uma época bem complicada para viver como drag, ter drag como profissão.