Muitas pessoas pensam que só homens fazem drags, só que não é assim. Qualquer pessoa, independente do gênero e sexualidade pode fazer Drag. A Fernanda Robin, 26 anos, é uma múltipla artista. É conectada com a música (canto e instrumentos), maquiagem, moda, dança desde sempre. Só que foi só fazendo Drag que ela encontrou seu lugar na arte. Ela se transformou na Tiffany Plazza, uma drag monster and glamourosa.
A Aquenda Revista está com um quadro de Lives no Instagram. E a Tiffany foi nossa primeira entrevistada nesse formato. Ela falou sobre o porque quis ser Drag Queen, suas inspirações para ser Drag Monster, sobre drags e filmes inspiradores, dificuldades, cobranças e muito mais. Ficou curioso (a) ? É só assistir a Live no insta da Aquenda. Segue abaixo alguns momentos do bate-papo.
Ps: aqui não cabe o bate-papo completo e algumas perguntas que estão aqui, são de alguns participantes da Live.
“Pra mim a arte é até quase como uma coisa mágica, é como um Deus”
Aquenda Revista: Por que você quis ser drag?
Tiffany: Eu quis ser drag porque quando eu vi o que era drag, como eram as drags, eu pensei assim: eu quero fazer isso também, quero me montar também. Quando comecei, quando eu conheci a Drag, eu achava que uma pessoa como eu não podia fazer drag, que não tinha sentido e quanto mais eu fui entendendo o que era drag….mais eu vi que realmente era para mim. Era o que eu precisava fazer e eu precisava realmente me transformar e brincar com essas fantasias de look e fantasia mesmo, de ser um ser fantasioso, entrar em um mundo fantasioso, que é o que eu sinto…eu senti que isso era pra mim, que eu precisava me apresentar, que eu precisava estar no palco.
Aquenda Revista: Você sente algum preconceito por ser mulher no meio Drag?
Tiffany: Às vezes sim, às vezes não. Às vezes acontece de comentários e essas coisas… o que me pega mais é a questão de representatividade porque quando comecei a fazer drag, tinha pouquíssimas pessoas que nem eu na cena, e eu tento lidar com esses desconfortos e esses comentários porque acho muito importante a gente estar presente, a gente fazer nossos trabalhos, a gente estar no palco, a gente estar representando…mostrando que pessoas que nem eu, que mulheres cis também podem fazer drag e é sobre isso. O que eu quero mesmo é a representatividade. Comentários e preconceito sempre rolam….
Aquenda Revista: E como são esses comentários?
Tiffany: Então…aconteceu até das pessoas questionarem assim….mas pode? faz sentido? Por que uma pessoa que nem tu se considera drag queen quando tu tá basicamente só se montando de mulher? Mas é isso q a Ru Paul fala, Born Naked, nascemos peladas e o resto é tudo drag. Drag para mim é essa transformação, essa fantasia, não entrar no personagem, mas tipo, de se transformar, de viver um outro corpo que a gente se vê também, que a gente vê para a gente. E muitas vezes às pessoas acham que não tem sentido uma pessoa que nem eu fazer essa transformação, sendo que tem uma transformação, tem toda uma performance no drag que não é de uma mulher normal. Até se a gente for entrar na questão do que é drag, tem muitos pedacinhos do drag em várias artes, em várias coisas. Querendo ou não, é um trabalho, é uma arte, tudo é para todo mundo. Todo mundo pode fazer todo tipo de arte, todo mundo pode fazer o que quiser e é sobre isso.
Aquenda Revista: Tiffany…qual foi tua primeira performance? Conta para a gente.
Tiffany: então… é difícil de eu responder exatamente qual foi minha primeira performance porque eu comecei a fazer drag na pandemia e eu comecei com performance online, de gravar, editar, então minha primeira performance foi para um evento, um show que teve, foi um concurso de performances de Halloween e me montei de Elfa. Eu fui para um parque no meio da pandemia montada, todo mundo de máscara e eu ali de Elfa. E gravei a performance com alguns amigos, e se for pensar assim…essa foi realmente a minha primeira performance que eu lancei para o mundo. Mas minha primeira performance no palco foi no Workroom, no lip sync que é aberto. E até hoje essa noite foi muito especial, porque eu sempre quis performar no palco, sempre foi onde eu mais gostei de performar. Eu adoro edições de vídeo, gravar, editar e até fazer umas coisas que não tem como fazer no palco, mas eu gosto mesmo é de estar no palco, com uma galera na minha frente e toda essa interação. Então minha primeira performance foi Ooh La La da Jessie Ware para quem quer saber a música e foi lá na workroom, na antiga workroom, no lip sync aberto.
Aquenda Revista: Inclusive já assisti performances tuas….arrasa muito, muito. E você canta também, né ?
Tiffany: Canto. Inclusive faz muito muito tempo, inclusive comecei a cantar bem antes de começar a fazer drag. Eu sou da música, né ?! Eu sempre toquei instrumento. Hoje em dia não toco mais tanto instrumento, mas eu tocava instrumento e sempre gostei de performar a música. Sempre foi esse o meu rolê e eu comecei a cantar na minha adolescência, e daí virou esse sonho assim, de performar no palco cantando. Só que só começou a fazer sentido depois que eu comecei a fazer drag, aí eu comecei a juntar as coisas e vi o tipo de artista que eu queria ser, como eu queria que as minhas performances cantando fossem….porque eu não sou uma compositora, ainda. Eu componho algumas vezes, só que não é uma coisa que eu costumo fazer, mas eu gosto de cantar Cover mesmo, gosto de cantar Diva Pop, gosto de largar um belting, eu gosto disso. E agora juntando com o drag, tudo faz sentido e eu comecei a trazer para as minhas performances, porque eu comecei a performar no palco cantando, mas não era um negócio que eu explorava tanto, nem era um negócio que me empolgava tanto. Só começou a fazer sentido depois que Tiffany Plazza começou a existir… é isso.
Aquenda Revista: Tirando a parte da cantora, eu sei que você é maquiadora. Então…você trabalha com make? Você pode falar mais um pouquinho disso?
Tiffany: sim, também. É uma coisa que eu também parei por um tempo, um tempo atrás. Agora comecei a fazer drag, eu voltei. Mas eu já fiz curso de maquiagem e essas coisas. É uma coisa que eu sou apaixonada, eu amo maquiagem e agora voltei a maquiar as pessoas, eu voltei a me explorar nessa área porque eu realmente gosto muito, eu adoro estar em produção de maquiagem. Recentemente eu tive em produção de clipe, maquiando para produção de videoclipe que vai sair logo quando….fiquem de olho nos meus stories aí p ver. É isso. Eu gosto de maquiagem de produção, eu faço maquiagem para evento também, para festa. Adoro fazer umas maquiagens gráficas e agora também tô querendo explorar as maquiagens especiais, mas tamo no processo.
Aquenda Revista: Qual foi a parte que te levou para o caminho drag ? A parte cantora, a parte da maquiadora ou uma junção de todos?
Tiffany: Acho que uma junção de tudo porque…por mais que a questão estética sempre foi muito muito muito importante no meu drag, continua sendo, sempre vai ser… eu adoro criar coisas. Tanto na maquiagem quanto nos looks, meus figurinos. Eu adoro tá em casa fazendo look, eu adoro. Então isso foi uma coisa que me empolgou muito no drag, e que sempre fez muita parte no meu drag. Mas o que me fez fazer drag mesmo foi a minha paixão por performar música, sempre quis performar música e até lip sync. Até assim.. eu senti uma leveza maior do que quando eu ia cantar ou até com banda e ter que tocar e tal. No Lip Sync a gente dá para ir na música, a gente vai lá e sente, é isso. Mas eu não seria a performancer que eu sou e não teria tanta paixão assim por performar música se não fosse por eu cantar, tocar música também. Tudo isso me levou a tudo que eu sou hoje. Então, acho que é uma junção de tudo. Não tem como não ser.
Aquenda Revista: E falando na junção de tudo, qual você acha que é a maior diferença entre a Tiffany Plazza e a Fernanda?
Tiffany: A Tiffany Plazza tá sempre morta né…. a Fernanda também na real…por dentro. Eu não vejo muita diferença da minha drag para minha pessoa porque é só a Fernanda se expressando visualmente. Tudo que tá na minha cabeça, eu coloco na Tiffany. Eu coloco no look e coloco nas minhas performances e tudo sou eu. É a minha pessoa, é o que eu gosto, é o que me representa, é o que eu sinto. Então assim, a Fernanda e a Tiffany Plazza são a mesma. É só realmente o look, o visual, a transformação que realmente muda, acho que essa é a diferença mesmo.
Aquenda Revista: Todas as suas performances são “mortas”?
Tiffany: É….é sim. É que eu gosto muito de terror, eu gosto muito da estética do terror e uma estética meio cadavérica. Por isso que eu faço esse contorno assim e eu faço ele, quase todas às vezes. E às vezes eu não faço, mas quase sempre eu faço ele porque é como eu gosto de aparecer. Eu gosto de aparecer meio morta, meio acabada, mas sempre bonita e sempre glamourosa. Eu sempre vi muita beleza nessas coisas esquisitas. Em monstros, em seres mortos, em mortos vivos, vampiros, lobisomens e essas coisas…eu adoro.
Aquenda Revista: Este teu gosto por coisas de terror, monstruosidade, vampiros… são as suas maiores inspirações nas suas performances, no seu estilo, no seu look?
Tiffany: Ah…eu diria que sim. Porque é uma das coisas que eu mais consumo, é uma das coisas que mais me faz pensar, eu fico muito tempo assistindo filme de terror, eu fico muito tempo procurando essas coisas assustadoras e viajando nos visuais dos fimes, eu adoro. E é muita coisa assim que eu acabo trazendo para as minhas performances, principalmente porque agora eu gosto de mexer com maquiagens de efeitos especiais. Mas eu também me inspiro muito em cantoras Divas Pop e eu sou muito muito muito fã da Alicya Keys que ela traz um glamour assim, um classy para as performances dela que me inspira muito, e Lady Gaga obviamente, Cristina Aguilera, e é isso. Essas são as minhas inspirações, filmes de terror e Divas Pop.
Aquenda Revista: Quais filmes de terror são teus favoritos que te inspiram?
Tiffany: Tem vários. Um dos meus filmes de terror favorito de todos é Jogos Mortais. Eu amo a franquia de jogos mortais, inclusive, sempre quis fazer alguma performance baseada, inspirada em uma das armadilhas de jogos mortais. Mas né…haja orçamento e habilidade para fazer isso, então quem sabe um dia vem aí uma performance bem Saw, Jogos Mortais. Eu adoro Premonição também, eu adoro muito filme que tem Gore e efeitos especiais. Eu adoro Hellraiser também, aquele que tem uns pregos na cabeça. Eu adoro, adoro, mas é principalmente isso. Filmes com Gore e efeitos especiais, de gente morta, que é o que eu gosto.
Aquenda Revista: E você pensa em fazer performances, tipo, sem ser nesse nicho?
Tiffany: Ah…eu faço porque querendo ou não, muitas vezes a gente tem que pensar no público que a gente tá performando. E às vezes eu penso que tem que fazer um negócio para Pop, para o pessoal se identificar também né ?! Porque eu tento cuidar de não só chegar e ser só estranha, ser só monstra porque eu quero que as pessoas se identifiquem, eu quero que gostem mesmo da minha performance, que elas não se sintam desconfortáveis, ou sei lá, que seja uma coisa que não faça sentido para elas. Uma coisa que eu gosto muito de fazer, é tá bem bem monstra, bem feia e nojenta. Mas aí, sei lá, performar uma Nelly Furtado, Rihanna, que todo mundo conhece, todo mundo vai querer dançar…mas aí é uma diva pop feia, é uma diva pop morta ali….eu adoro esse conceito.
Aquenda Revista: Quando foi que tu teve mais dificuldade assim em ser drag, uma dificuldade que tu passou?
Tiffany: Pandemia. Ainda mais porque eu comecei na pandemia e eram tantas incertezas. Eu pensava: será que um dia eu vou conseguir performar no palco ? E era isso. Eu gostei muito de tudo que eu aprendi na pandemia,, porque eu passei grande parte do tempo estudando, vendo tutoriais, testando coisas e participei de competição online também. Não aconteceu a competição, mas eu fiz todos os desafios.
Aquenda Revista: Qual é o nome da competição?
Tiffany: É o falecido Super Queen, que começou e parou na metade, mas eu fiz os desafios. Eu fui bem até onde rolou, me desafiei muito e aprendi muita coisa. Foi onde eu aprendi a costurar, porque eles davam os desafios e eu tinha as ideias. Eu começava, mas não tinha tempo para chamar pessoas, não tinha tempo para chamar costureiro que conseguisse fazer um look ficar pronto a tempo. Então eu pensei que tinha que ser eu, aí eu comecei a aprender a fazer muita coisa, mas era muito difícil não ter, não poder estar com o público. Não tem nem como atender habilidades sociais como drag queen na pandemia. Eu tô aprendendo essas coisas agora, assim como lidar, falar no palco com as pessoas, e também de performar no palco. Estar ali no palco com a galera, com o público e é isso. Essa foi a maior dificuldade, de não ter acesso a essas coisas durante a pandemia.
Aquenda Revista: Algumas drags que eu já entrevistei, falaram que alguns dos maiores desafios era de não saber costurar, de não fazer make…de não ter…como q se diz, Money né , porque tem algumas coisas que são bem caras e eu acho que isso deve ser uma coisa…como é que se diz…ah…não tá vindo a palavra…saber costurar, saber fazer make tem um ponto alto né, em ser drag.
Tiffany: Eu gosto de fazer tudo porque às vezes dá aquele desespero. Tu tem a ideia, tu quer fazer as coisas e às vezes é muito essencial tu mesmo saber fazer. Eu lembro que eu vi uma entrevista com a Dita Von Teese, que ela fala dessa importância de tu fazer tudo, porque às vezes não vai ter ninguém disponível para te ajudar. Às vezes é tu mesmo que vai ter que se virar e tu ainda quer estar belíssima, ainda quer entregar o teu melhor. Eu acho muito bom fazer essas coisas, mas é muito estressante também.
Aquenda Revista: Então uma das tuas maiores dificuldades, além de tudo que tu falou é a cobrança que tu mesmo se coloca?
Tiffany: Eu me estresso com a quantidade de coisa que eu faço, eu me estresso com a quantidade de coisa que eu aprendi a fazer, que eu ainda tô aprendendo a fazer e ainda quero melhorar. Eu penso que eu tenho que treinar costura, tenho que estilizar peruca, todas as coisas e eu fico pensando que eu não tô evoluindo nisso, não tô evoluindo naquilo, é muita coisa realmente. Isso é uma parte bem difícil de ser drag, porque é muita, muita, coisa que a gente tem que fazer. Muitas vezes a gente precisa saber fazer e não tem tempo, não existe ânimo o tempo inteiro para a gente. Mas eu amo quando eu tenho tempo, quando eu tenho ânimo…. eu me divirto. Então muito legal, mas é difícil.
Aquenda Revista: Quais as três principais referências da Tiffany?
Tiffany: Eu vou falar de drags que são minhas referências. Eu adoro “Dragula” e eu não sei se alguém conhece, mas é um reality show de drag. É tipo um “Drag Race”, hoje em dia são praticamente o Drag Race das Drags de Terror e nessa competição tem uma drag que é tudo pra mim. Ela é a minha maioral que é a Victória Elisabete Black, que é uma drag que cresceu com uma família que tinha um parque temático. no qual ela começou a trabalhar com efeitos especiais, construindo cenário para as coisas, trabalhando com próteses e efeitos de filme mesmo. Ela traz tudo isso para o drag dela e eu acho incrível. Eu também acho que ela é muito glamourosa e ela traz esse aspecto do glamour que eu gosto muito, além de ser assim 100% monstra. Ela consegue se transformar em uns monstros que ninguém consegue, ela faz coisas assim que eu nunca vi, não sabia que era possível uma drag queen saber o que ela faz , então eu recomendo acompanharem o trabalho dela, que ela é foda pra caralho. Eu gosto muito da Akira Hell, ela é aqui do Brasil, ela é do Rio de Janeiro e ela é a drag mais nojenta que eu já vi na minha vida, e eu acho isso muito legal. Quando eu vi perfil dela, me isentou de tudo que eu posso ser de absurda, de nojenta, e de horrorosa mesmo assim, de ugh, de grotesca no meu drag. E por mais que eu não vá muito para um lado que ela vai, de realmente fazer umas coisas nojenta mesmo, eu admiro muito o trabalho dela e eu gostaria de ser mais como ela.
Aquenda Revista: Qual é uma das coisas nojentas que ela fez que tu não faria?
Tiffany: Ah….ela (Akira Hell) tem umas publicações no Instagram. Ela põe uns bichos na boca, ela coloca umas coisas na boca, umas coisas nojentas. Tem um look dela que ela tá cheio de bituca de cigarro na boca também, nojento, nojento. Ela às vezes faz umas coisas…. mas assim…nada que eu nunca faria porque eu faria. Tem certas coisas horríveis que eu faria pelo Drag, pela performance, pela loucura.
Aquenda Revista: Qual é uma coisa que tu tem vontade de fazer ou que faria…que tu não fez, mas tem vontade de fazer?
Tiffany: Quero que vocês não me julguem. Eu tenho muitas fobias, inclusive eu era uma criança com muito medo de tudo e muitas vezes eu sei que essas fobias atrapalham na minha vida e eu gostaria de lidar melhor com elas e eu queria trazer isso pra minha arte. Então um dos meus sonhos é fazer um vestido que nem aquele vestido do filme Hairspray, de barata, só que com barata de verdade.
Aquenda Revista: E qual coisa você nunca faria no palco?
Tiffany: Uma coisa que eu não gostaria de fazer no palco é uma coisa que realmente não me representa. Tipo, eu ali tentar ser uma drag 100% padrão, 100% uma drag que quer agradar o público 100%, sem pensar na minha identidade, sem pensar no que eu gosto de fazer, porque eu acho que não tem graça. Não tem o porque de eu estar ali fazendo uma coisa que todo mundo faz, que todo mundo espera, porque a gente tem que fazer coisas pensando no público. A gente tem que pensar no que é mais adequado para o público que a gente tá fazendo, mas a gente tem que trazer a nossa identidade, a gente tem que fazer o que gosta de fazer. Então por mais que seja importante agradar o público, a gente tem que se agradar, a gente tem que trazer o nosso diferencial também. Nunca mude completamente o que tu vai fazer, quem tu é, o tipo de artista que tu é. Traz o que tu faz, junto, principalmente em competição quando tem desafios. Já fiz esse desafio na Copa das Drags. Eu pensei em trazer a Anitta com algo que eu gostasse de fazer, de performance que eu gostasse de fazer, com look que eu gostasse. E o que o meu drag tem a ver com a Anitta ? Praticamente nada. E eu me diverti horrores, me diverti muito fazendo essa performance que não tinha nada a ver comigo. Mas eu pensei o tempo inteiro em como eu podia me agradar, mas ao mesmo tempo, servir o que a galera gosta.
Aquenda Revista: Como você lida com críticas ?
Tiffany: Eu acho crítica muito importante. Eu não sou uma pessoa que me sinto mal com crítica, só a gente tem que saber o que a gente vai levar em consideração, o que a gente vai aplicar para nosso trabalho, e o que a gente acha que não faz sentido pra gente. Porque muitas vezes as pessoas só vão falar as opiniões delas e às vezes tu só não vai concordar com a opinião da pessoa e tá tudo bem. Eu já recebi críticas várias vezes, principalmente da minha moda. A Aurosa Siren me ensinou muita coisa e todas as críticas dela transformaram meu drag, fizeram eu ser a drag que eu sou hoje. Críticas também de muitas amigas, de todas as pessoas que eu amo, pessoas do público. Eu acho muito importante quem entende e se importa, tem que ser sincero também. A gente tem que botar as pessoas pra cima, a gente tem que elogiar nossos amigos, mas a gente também tem que ser sincero e eu gosto de receber crítica, porque eu gosto de melhorar, eu gosto de sempre estar evoluindo e críticas me fizeram evoluir. Então , não tem o porque de eu não gostar de receber crítica. Quer dizer, às vezes eu não gosto, mas muitas vezes faz sentido e me leva pra lugares melhores.
Aquenda Revista: Você já sentiu preconceito das pessoas que não fazem parte do meio drag?
Tiffany: mas é principalmente essas pessoas que tem preconceito. A maioria das drags são bem de boa. Eu sempre me senti super bem nos camarins, eu sempre me senti super bem vinda porque elas entendem o negócio, elas sabem o que é drag. Elas sabem o que é fazer drag e elas sabem que é pra todo mundo. Muitas vezes quem faz esse tipo de crítica realmente não sabe nada, não faz drag, nem acompanham a gente, porque se acompanhassem, saberiam que mulher cis faz drag sim e estão muito presentes na cena, é isso.
Aquenda Revista: Qual foi o dia que tu decidiu que queria fazer drag ? Um momento que tu se inspirou muito, que tu amou muito, que tu quer levar pra vida?
Tiffany: Eu acho que foi o dia que eu conheci a competição no “Dragula”, porque foi quando eu realmente vi as drags monsters e eu vi o drag de uma maneira que eu não sabia que era possível, que existia e que era tão presente assim. Era o drag que… quando eu vi eu fiquei assim….é isso que eu quero fazer, é isso que eu quero ser. E nesse momento eu pensei que bom que eu estou indo por esse caminho, que bom que eu decidi fazer drag. E foi como se eu tivesse encontrado meu lugar no mundo. Sabe ? É ser…é um sentido porque eu existo, para ser uma drag monster, é isso.
(Comentários especiais)
Tiffany: eu só queria comentar assim: que minha relação com drag é muito especial. Drag realmente me salvou em muitos aspectos, é por isso que eu realmente falo assim, é o motivo que eu existo, é pra isso que eu tô nesse mundo, pra ser drag queen. Para viver essa arte, porque eu estou aqui. Eu já sou artista há muito tempo, mas demorou muito tempo pra realmente saber que tipo de artista que eu sou, por isso que drag é muito, muito especial pra mim.
Aquenda Revista: Você quer falar de algum momento específico que a arte drag te salvou?
Tiffany: Da pandemia principalmente. Da gente não ter muita coisa acontecendo e até foi o momento que eu comecei a fazer drag. Era uma distração, porque, por mais que tinha frustrações em relação a isso, era uma distração e era até uma forma de esperança assim. E tudo que eu treinei, são coisa mais específicas, porque por muito tempo eu dei valor pra muitas coisas que não faziam sentido assim na vida, mas a arte sempre foi uma coisa que me salvou.
Aquenda Revista: Tu dava valor para qual tipo de coisa?
Tiffany: Coisas de relacionamento mesmo. Esse tipo de frustração com outras pessoas, que muitas vezes são coisas que hoje em dia não faz mais sentido, porque a minha arte, é o que faz mais sentido pra mim. É o que mais me move, o que faz eu realmente sentir paixão pela vida, é a minha arte, arte no geral. Eu até tenho uma relação meio religiosa com a arte. A arte é a minha religião, é o que me dá sentido na vida e é isso assim. Desde que eu achei o meu lugar na arte, e que eu realmente entendi que tipo de artista que eu sou, eu comecei a trabalhar mesmo com o que eu queria e fazer o que eu queria, isso virou sentido na minha vida e é isso.
Aquenda Revista: Maravilhosa, sério, eu fiquei emocionada. Então tu vê arte como religião assim, praticamente?
Tiffany: Praticamente. Porque já me perguntaram uma vez assim, tipo, se eu tinha algum tipo de espiritualidade, porque eu sou uma pessoa bem cética, eu não tenho isso muito presente na minha vida. E perguntaram se eu tinha alguma questão espiritual assim ou alguma coisa, porque a gente sente não ter assim…a gente não vê muito sentido na vida, a gente não vê muita coisa além do que existe e muitas vezes o que existe não é o suficiente sabe ? Mas pra mim a arte é quase como uma coisa mágica, é quase como um Deus, porque pra mim tá além do que existe. É como se a gente pega o que existe, e o que tem no mundo, e a gente transforma num negócio mágico. Pra mim arte é isso. Por isso que é quase uma religião pra mim, porque é como um Deus.