“Faça por Prazer”

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      A Drag Queen Cassandra Calabouço é uma das primeiras Drag Queens de Porto Alegre. No ano de 2018, ela completou 20 anos como artista Drag. Ela já inspirou algumas pessoas a serem Drag e outras pessoas a aperfeiçoarem sua Drag com o Workshop Pimp My Drag. Ela é uma artista nata e ama muito que faz. É uma fonte de inspiração, tanto para quem está iniciando como para quem já tem experiência neste meio artístico. Ela acredita que para ser Drag Queen tem que ter prazer no que faz.

“Não ambicione fazer isso como profissão, faça por prazer. Deixe que a questão profissional venha por consequência. Se você for uma boa Drag Queen, se você tiver criatividade, se você pensar a respeito do seu trabalho, se você tiver boas propostas artísticas, você vai acabar trabalhando com isso se assim for o seu desejo”

  Cassandra conversou com a Revista Aquenda e comentou sobre as diferenças do Nilton(Nome real) e da Cassandra(Nome da personagem). Também comentou a sua inspiração de ser Drag Queen, do seu Workshop, Mercado de Trabalho em Porto Alegre para Drag Queens, e também deu dicas para quem quer ser Drag. Confira a entrevista a seguir para saber um pouco mais desta grande artista.

Você trabalha como Drag Queen há quanto tempo?

  Exatamente no dia de hoje, 18 de novembro (2018), completa 20 anos que eu monto.

Porque você quis ser Drag Queen?

  Não foi algo de muita decisão na época. Não é uma coisa assim, eu acordei e vi isso como uma possibilidade de profissão, nem nada. Eu já era Bailarino na época, e estava na moda o “Filme Priscilla: A Rainha do Deserto”, recém tinha lançado o filme, e se falava muito em drag queen. E eu fiquei bastante impactado por apresentações, e isso teve a ver com meu outing. Eu achava que era errado ser gay, eu já sentia que eu era gay, mas eu não queria ser, achava que era errado. Aí eu comecei a dançar em uma companhia de dança profissional daqui de Porto Alegre, comecei a conviver com outros homens gays, e daí eu comecei a ver que não era nada de errado. Eu tive coragem de assumir pra mim mesmo que eu era gay, e de assumir pra minha família. Aí eu comecei a frequentar lugares, boates gays, e eu via muitos shows de transformistas.

Qual sua inspiração como drag?

  Uma grande inspiração minha é um amigo da adolescência que começou a se montar antes de mim, que é a Drag Charlene Voluntaire. Eu achava o máximo, e as produções eram incríveis. E também tinha o show de uma transformista, na época era transformista, e hoje é mulher trans maravilhosa, Glória Crystal. Na época ela era um ator transformista, e eu achava tudo maravilhoso, assim, esse universo assim de dublagem, da maquiagem, da transformação, da possibilidade de atuar no papel feminino, era algo legal, e que de certa forma, desde criança, eu já fazia isso. Eu adorava, por exemplo, brincar de maquiagem com a caixa de maquiagem da mãe. Quando eu ficava sozinho em casa, gostava botar salto alto. A primeira coisa que eu aprendi sozinho foi andar de salto alto porque eu ficava andando de salto alto em casa sozinho o dia inteiro. Então isso já era um ambiente, já era um universo que eu gostava , o universo feminino já era atrativo pra mim. Eu gostava de dançar, eu gostava de dublar, eu gostava de fazer coisas engraçadas. E aí eu vi na Drag Queen uma possibilidade artística de diversão. Então, na verdade, eu comecei a me montar por diversão, por prazer. Só por isso. Eu me montava porque achava legal, porque eu queria me divertir e divertir meus amigos.

Qual a maior diferença entre o Nilton e a Cassandra?

  São imensas diferenças, e ao mesmo tempo, não tem nenhuma. Porque tudo ao mesmo tempo sou eu e uma outra personagem. Uma relação estranha assim, mas acho que a principal diferença entre a Cassandra e o Nilton é o bom humor. A Cassandra é bem mais humorada do que eu. Eu me esforço para fazer a Cassandra ser bem humorada e a capacidade de improviso. Quando estou montado, tenho uma capacidade muito maior de improvisar do que quando estou desmontado. A maior diferença entre eu e a Cassandra é o improviso, o jogo de cintura.

Você pode me falar sobre o seu Workhop?

  O que eu posso falar é que o Pimp My Drag já está na sua 5 edição. Já rolou esse ano (2018). No ano que vem, eu devo fazer a sexta edição. É um Workshop que fiz com a intenção de melhorar a cena Drag porque eu vi várias Drags começando agora nesse “Boom” do RuPaul Drag Race, e muita gente querendo ser drag queen, muita gente achando legal e querendo se divertir. E tem certas coisas que são complicadas assim, não são muito fáceis. A gente não aprende do dia para a noite, por exemplo, como estar no palco? Como pisar no palco? O que fazer quando estou no palco? Como me maquiar? Que figurino? Como construir a minha personagem? Se eu abrir minha boca, o que eu vou falar? O que eu quero dizer? Ou que a minha personagem diga? Vou mudar meu tom de voz? Qual vai ser meu discurso? Vou ser uma drag mais ácida ou uma drag mais meiga, mais risonha? Eu vou ser uma drag mais agressiva no visual ou vou fazer uma linha mais caricata? Enfim. Inúmeras possibilidades artísticas.

  Então, o Workshop é justamente para isso. É um olhar artístico para o que faz e uma vivência. Eu não ensino nada pra ninguém, eu dou dicas e ajudo no processo de cada pessoa que faz o Workshop. Então já teve muita Lady Queen, que é a menina quando faz Drag Queen, e tem Drag King que é quando a menina se veste de menino e tem Drag Queen que é quando o homem se monta no papel feminino. A intenção do Workshop é fazer um Up na cena para que as pessoas possam conversar e pensar a respeito do seu trabalho para que possa enxergar como expressão artística, realmente fazer disso uma arte, porque muita coisa pode ser arte, mas é sempre importante pensar em que tipo de artista a gente quer ser. Veja, não há julgamento sobre escolhas, só é importante fazer conscientemente essas escolhas, o Workshop é isso.

Como você enxerga o Mercado de Trabalho para Drag Queens em Porto Alegre?

  Bem difícil. Eu vivo disso. Eu vivo da minha arte. É bem complicado, porque no momento que tem gente que faz isso por prazer, essa pessoa não tem a intenção de viver disso. E se a pessoa faz isso por prazer, ela tem outras fontes de renda, ela pode bancar seu trabalho artístico, enquanto tem pessoas que dependem desse dinheiro para fazer seu trabalho artístico. Veja, não está errado, não quero ser incoerente. Eu mesmo comecei a me montar por diversão. E eu acho que toda drag, primeiro, tem que se montar por diversão. As pessoas não podem querer ser artistas pelo dinheiro porque ser drag queen não dá dinheiro, pelo ao contrário, é uma série de investimento, mas eu acho que o mercado em Porto Alegre é um pouco complicado por causa disso, assim, porque acho que tem muitas pessoas que querem ter experiência artística e isso deve ser mantido. E tem pessoas que estão no mercado e deveriam ter outro posicionamento para fazer a coisa subir. A gente tem que pensar nisso, Mercado de Trabalho, um olhar para o todo. Existem colegas que não pensam nisso.

Qual o conselho que você dá para quem quer ser Drag Queen, seja como profissão ou como hobby?

  Meu conselho é: não ambicione fazer isso como profissão, faça por prazer. Deixe que a questão profissional venha por consequência. Se você for uma boa Drag Queen, se você tiver criatividade, se você pensar a respeito do seu trabalho, se você tiver boas propostas artísticas, você vai acabar trabalhando com isso se assim for o seu desejo. Se você concordar com o mercado, com o valor que pagam no mercado, se você concordar com os vários preços que se pagam, porque aqui a gente está falando de um valor material de dinheiro, mas existem vários preços que a gente paga nas escolhas que a gente faz. Preconceito, olhares tortos, dificuldade no próprio meio entre as drags, é muita competividade, enfim, não é fácil não. Então meu conselho é: faça por prazer, se divirta. O profissionalismo vem depois, espere, primeiro faça por prazer.

Transformação de Nilton para Cassandra Foto: Robson Hermes

9 COMENTÁRIOS

  1. ORGULHO simplesmente me define, quando eu leio o trabalho incrível com o tema “Drag Queen” com a Artista Cassandra Calabouço, que a minha irmã Letícia Anele Kruse idealizou, escreveu e desenvolveu em sua Revista Aquenda…
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