“É uma arte que te permite ser o que tu quiser”

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     Bruna Torres tem 19 anos, é atriz e começou a ser a Naya Lennox recentemente. Naya é a segunda Lady Queen que aparece na Aquenda Revista. Lady Queen é o nome dado por mulheres que trabalham com a arte drag. Importante ressaltar que toda pessoa pode trabalhar com a arte drag, independente do sexo e/ou gênero. A Bruna sempre foi apaixonada pela arte da transformação, e também não sabia que poderia ser drag pelo fato de ser mulher.

“Faz pouco tempo que eu descobri que mulheres também podem fazer drag”

   A Bruna nunca trabalhou como drag em público, só se montou como a Lady Queen Naya Lennox para amigos. Apesar da pouca idade e da pouca experiência como drag, ela sempre assistiu vídeos do mundo drag no YouTube antes da existência do reality “RuPaul’s Drag Race”. Em meio a pandemia, a Aquenda Revista conversou com a Naya Lennox via WhatsApp. Ela falou como é ser mulher no meio drag, porque quis ser drag, preconceito, diferenças entre Bruna e Naya, conselhos e muito mais. Confira a entrevista completa:

 

Foto: arquivo pessoal

 

Aquenda Revista: Porque você quis ser drag queen?

Naya: Eu quis ser drag porque sempre vi isso desde criança e eu ficava fascinada com toda aquela transformação, os anos foram passando e eu fui pesquisando mais, me apaixonando mais. Eu escolhi isso principalmente porque é uma arte que te permite ser o que tu quiser, não tem certo e errado (apesar de algumas pessoas pensarem que tem), e eu acho muito lindo isso, é uma forma muito genuína de expressão, nos permite mostrar uma parte de nós mesmos que às vezes a gente tem vergonha.

Aquenda Revista: Como é ser mulher no meio drag?

Naya: É meio doido entrar nisso e realmente perceber que mulheres não são tão aceitas como deveriam. Algumas pessoas não entendem que drag é arte e qualquer um pode fazer, ficam naquela ideia meio RuPaul de que só homens podem fazer, mas aos pouquinhos a gente vai desconstruindo.

Aquenda Revista: Você foi inspirada pelo reality “RuPaul’s Drag Race”?

Naya: Minha história com a arte drag começou com vídeos no YouTube antes do “RuPaul’s Drag Race” existir, depois que fui começar a ver o programa, sou muito fã,  mas a Rupaul tem um pouco de problema com mulheres fazendo drag. Então isso me desmotivou, mas outras queens de lá me inspiraram bastante, principalmente algumas dizendo que mulher pode fazer drag, tenho algumas inspirações lá mas não foi o principal.

Aquenda Revista: Qual sua maior inspiração como drag?

Naya: Minhas inspirações com certeza são algumas drags do Brasil mesmo, como a Gabi Santorini, Leona Brilha e Aquarela, e algumas do RuPaul’s Drag Race“, como Vanessa Vanjie, Katya, Gottmik e Bianca del Rio (apesar de ela dar uns closes errados).

Aquenda Revista: Você vê alguma diferença entre as drags mais novas e as drags mais experientes?

Naya: Bastante. Às vezes as mais novas são muito influenciadas pelo padrão Rupaul e se importam demais só em ser bonitinhas, as mais velhas estão ali mais pela arte mesmo, claro que não são todas,, mas eu vejo bastante isso.

Aquenda Revista: Você já sofreu algum preconceito por ser Drag?

Naya: Não cheguei a sofrer preconceito como drag de fato ainda, mas já ouvi algumas coisinhas do tipo “ah, mas mulher não pode fazer drag”, não acho que isso seja preconceito, talvez só um pouco de desinformação. Até porque eu fui ensinada assim também, faz pouco tempo que eu descobri que mulheres também podem fazer drag. Antes eu só ficava olhando e pensando que eu não poderia fazer aquilo, agora eu sei que posso e que também algumas pessoas podem querer jogar hate em mim por isso, mas tá tudo bem, é quem eu sou.

Aquenda Revista: Qual a maior diferença entre o Bruna e a Naya?

Naya: A principal diferença provavelmente é a questão da confiança. A Naya não tem medo de falar nada, se joga em tudo, não tem vergonha e já chega causando. A  Bruna já é um pouquinho mais contida (não tanto mas mais que a Naya) e tem problemas com o corpo, o que dificulta bastante em alguns aspectos. A Naya não se preocupa com isso, é uma coisa um pouco louca pra quem vê de fora, porque tecnicamente é o mesmo corpo, mas tudo vem da confiança.

Aquenda Revista: Quais são os problemas que a Bruna tem com o corpo?

Naya: A Bruna tem transtorno alimentar, então é bem difícil aceitar o corpo. Ela não consegue amar o corpo que tem, mas a Naya não tá nem aí pra isso, se apega em algumas inspirações e não liga se está muito gorda ou outras coisas do tipo.

Aquenda Revista: Qual conselho você dá para quem quer ser drag? Seja como hobby ou profissão?

Naya: Meu conselho é não desistir. Eu sei que não tenho tanta experiência, mas é realmente difícil ser artista no nosso país, principalmente uma coisa que é mais voltada pro público LGBTQIA+. Às vezes pode parecer difícil mas não podemos esquecer dos motivos que fizeram a gente escolher esse caminho. Tem que ter muito amor pela arte mesmo. Para seguir nisso, principalmente com o cenário tão padronizado pela cultura americana, mas no final vai dar tudo certo, temos que viver nossa verdade sempre.

 

 

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