A Revista Aquenda conversou com a drag Allana Menezes que foi convidada para participar da Festa Pintosa em comemoração de dois anos como Drag Queen. As Drag Queens sofrem muito preconceito, seja com pessoas que não são drags, com pessoas do meio LGBT, e até mesmo outras drag queens. Tem muita “rixa” neste meio, e muitas vezes esse preconceito é velado, mas ele existe. A Allana Menezes contou para nós o porque dela querer ser drag, os desafios, algumas inspirações e muito mais. Confira a entrevista:
Aquenda Revista: Porque tu quis ser Drag Queen?
Allana: Eu sempre tive essa guerra com a sexualidade. Eu sou gay e demorei muito pra me aceitar, só que desde quando eu era assim pequenininho, quando tinha 1,2 anos, as coisas da minha mãe já me chamavam atenção. Sapatos, bonecas, essas coisas sempre me chamaram atenção, inclusive, de eu cair de sapato muitas vezes porque eu estava correndo com o sapato, então essa coisa me chamava, só que por muito tempo, eu me reprimi. Eu me privei, eu era evangélico, então era bem complicado pra mim. Quando eu me aceitei, eu ainda tinha aquele machismo, inclusive quando começava a vir aqui no Vitraux, achava bem estranho as Drags, muito estranhas, sabe. Eu não entendia a arte, eu não entendia a cultura, que é uma cultura, não é só o fato de eu vestir de mulher. É uma cultura, se envolver, trabalhar a militância, trabalhar a representatividade, eu ser quem eu puder ser, não ficar me reprimindo, não ficar preocupado com o que os outros pensam, e na Pintosa, é a segunda Pintosa que estou vindo. O ano passado não apresentei, mas gostei muito da festa, e daí esse ano o produtor me chamou pra vim comemorar meu aniversário
Aquenda Revista: Tu já sentiu algum preconceito pelo fato de ser Drag Queen?
Allana: Sim. Inclusive no meu trabalho. Eu trabalhava numa equipe, onde a maioria era homem, embora fosse da área da pedagogia, e eles tipo passarem minhas fotos para whats, “rogando” assim, e falando várias coisas assim, totalmente machistas, preconceituosos, não entendendo a arte da drag. Até ofendendo travesti, chamando de traveco, chamando essas nomenclaturas pejorativas né, totalmente fechadas.
Aquenda Revista: Tu fez alguma coisa em relação a isso?
Allana: Não fiz nada, mas tinha muitos comentários de não aceitar sabe. Quando eu comecei a falar que era drag, no momento até acharam legal, até porque eu fiz uma performance de um lado maquiado, e o outro eu mesmo. Uma performance sobre gêneros que eu fiz para psicólogos, educadores, assistentes sociais, foi muito bacana! Só que depois disso, começou a rolar uns assuntos chatos, inclusive de que a drag estava me consumindo profissionalmente, sendo que não acontecia isso, sabe. Eles não tinham nada para falar de mim profissionalmente, mas acontecia o machismo, acontecia o preconceito mesmo contra isso.
Aquenda Revista: Muito triste isso, não tem nem o que falar, ainda mais na área de quem trabalha com educação social.
Allana: Muito triste! Hoje pra me prevenir um pouco, até pra não me ferir, porque eu pensei em desistir, em largar essa cultura de drag. Hoje eu até tava me montando e pensando assim, bah, se for pra valer a pena mesmo, eu vou continuar. Hoje ia ser um termômetro pra saber se eu ia continuar ou não. E eu tive que me privar dessa época, de me bloquear as pessoas que eu trabalhava, as redes sociais da drag pra não ter esse disque que me disse, pra eles não terem acesso, pra eu não me ferir de tal forma, sei que talvez não é o indicado, mas eu preferi do que ficar ouvindo coisas e ficar se machucando.
Aquenda Revista: Em várias conversas com Drag Queens, muitas sofreram preconceito dentro do meio. Tu também sofreu preconceito neste meio?
Allana: Às vezes, tua arte não é muito compreendida. Às vezes eles querem muito padrão, ou muito mulher. Hoje, inclusive, eu voltei a drag Allana de barba, que já fiz ela sem barba e com barba, porque eu quero trabalhar essa parte de ser do jeito que tu quiser, não padrão. Eu sou gordinha também, então quando a Gloria Groove surgiu, eu me identifiquei muito, eu vi uma representatividade. Até então era só Pablo Vittar, magra, alta, e muita gente assim do meio, então eu fiquei meio perdida assim no começo, mas depois eu comecei a me achar no meio, e eu também faço meio que uma parte de Hip Hop. Eu gosto muito disso sabe, e então no começo assim, por ser diferente de outras drags, tu fica meio assim, com uma retaliação.
Aquenda Revista: Acho que isso até quando não é drag. Quando nos sentimos diferentes, acabamos ficando meio retraídos.
Allana: Isso. E agora tô com outro projeto, de fazer vídeos, algumas coisas assim né, com a minha drag. Às vezes também vou pra festas de formaturas, aniversários, casamentos, fazer performances, e as vezes pessoas que não são do meio te tratam bem melhor do que as pessoas do meio, então há uma concorrência que as vezes não precisa, porque cada uma é diferente, e acho que tu pode manter o perfil de cada uma que eu acho que isso vai fazer a atração, a diversão no meio drag.
Aquenda Revista: E qual a importância da festa pintosa pra ti?
Allana: Olha, é uma festa que eu posso vir do jeito que eu sou, eu posso curtir, me divertir sem me reprimir. Acho que as pessoas que vem pra cá tem uma vibe bem boa assim de participar, de se divertir. Hoje quando eu vim, muita gente que eu conheço, vem nessa festa e é isso. Tô querendo me divertir o máximo nessa festa pq já é uma expectativa do ano passado pra cá, até surgir a outra edição que conheci no ano passado, então eu tava com uma expectativa bem grande pra essa de hoje.