“O respeito é essencial”

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   Lurra  é uma forma de escape, um tipo de refúgio  das coisas do mundo, das coisas ruins que estão acontecendo para Fernando Lima (nome de batismo). E ele faz desse refúgio, um lugar leve, divertido e alegre para as pessoas de casa e em shows. Lurra teve o primeiro contato e primeira inspiração com a arte drag em boates muito antes do “boom” do reality “Ru Paul’s Drag Race”. E falando em boate, Lurra já sofreu preconceitos por seguranças pelo fato de  gostar de mostrar seu corpo.

“Ao mesmo tempo que a gente tem um grande apoio, a gente também tem um grande desrespeito”

  Fernando Lima é de Roraima, foi criado no Mato Grosso, e atualmente mora em Pelotas onde trabalha como Cabeleireiro e como Drag. Ele tem 22 anos e a Drag tem 03 anos. Lurra é a definição de algo transformador para Fernando. Em meio a pandemia, conversamos com Lurra via Whats. Ela falou o porque quis ser drag queen, preconceitos, diferenças entre Fernando e Lurra, conselhos e muito mais. Confira a entrevista completa:

 

Foto: arquivo pessoal

Aquenda Revista: Porque você quis ser drag queen?

Lurra: Eu quis ser drag porque eu precisava me sentir mais pertencente a uma coisa, eu precisava me sentir fazendo parte de algo transformador. Eu sentia uma necessidade enorme de mostrar, pra mim, não só para os outros que eu pertencia a algo. e que eu poderia fazer algo que demonstrasse , sabe?Transformação que eu pudesse causar nas pessoas de buscar conhecer o que é aquela figura, o que ela representa.

 

Aquenda Revista: Você foi inspirado pelo reality “Ru Paul’s Drag Race” ?

Lurra: Onde eu conheci drag queens foi indo em boate, onde conheci travestis….então foi ali minha primeira experiência, minhas primeiras inspirações também. Foi mais na boate, depois que eu fui conhecer o mundo de Ru Paul.

Aquenda Revista: Qual sua maior inspiração como Drag?

Lurra: Inspirações pra mim….eu gosto muito da Silvetty Montilla, da Bianca de La Fancy, que me inspira muito também……gente….são tantas, sabe? Natasha Princess, a Robbyt Moon….esse pessoal me inspira muito, muito. Ru Paul também, a Pablo Vittar….acaba que a gente tem algumas referências muito legais.

 

Aquenda Revista: Qual a maior diferença entre o Fernando e  a Lurra?

Lurra: Fernando é um menino que trabalha desde muito cedo, eu sou cabeleireiro. Eu trabalho com isso há uns 10 anos, então já faz um bom tempo e é a profissão que eu amo e que eu quero fazer a vida inteira. O Fernando sempre foi batalhador e sempre esteve pronto pra todo tipo de mudança. Acho que a maior diferença da Lurra para o Fernando é que a Lurra sabe falar mais não, sabe? Ela é mais objetiva, ela não liga tanto em falar não. Ela é bem mais explosiva, ela é bem mais objetiva mesmo.

 

Aquenda Revista: Você já sofreu algum preconceito por ser drag?

Lurra: Já. Já sofri sim, por ser uma drag diferente, sabe? Eu sou mais musculoso, sou maior, gosto de mostrar o meu corpo mais masculino mesmo. Gosto muito de ter essas características exaltadas dos dois gêneros. E muitas vezes em boates, donos de boates, seguranças de boate falam…tipo: “ah, não dança muito”, “dança menos”. Tipo, eu tô numa boate, cara. Eu quero dançar e muito diz respeito em consideração a cachê. “Ah, mas tu vale realmente tudo isso?”  Eu falo:  “gente, eu não vou gastar caro com peruca, não vou gastar caro com makes e com roupa pra não ter um cachê legal”, sabe? Isso pra mim também é uma falta de respeito. E fora na rua né? Ao mesmo tempo que a gente tem um grande apoio, a gente também tem um grande desrespeito. O melhor é a gente não escutar e não deixar a peteca cair, seguir em frente e sempre pensando em educar realmente as pessoas, e de levar informação.

 

Aquenda Revista: Qual conselho você dá para quem quer ser drag? Seja como hobby ou profissão?

Lurra: O conselho que eu dou para quem quer ser drag é que independente de gênero, de sexualidade, qualquer um pode ser drag queen, desde que respeite a história e tenha referências e tenham noção de suas referências. Que possam ter noção de que se isso é possível hoje em dia. Muita gente morreu, muita gente sofreu, e ter consciência disso,  de saber carregar a arte e levar essa arte de uma forma legal para que essa arte também possa ser política, também possa ensinar as pessoas que o respeito é essencial.

 

 

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